14 de janeiro de 2015



Tô com saudade dela – Porque há amores que nunca se vão


A verdade é que tá foda. Ontem descobri que o amor da minha vida encontrou o amor da vida dela. Quando vieram os papos de aliança dourada, eu quis desconversar, mas não teve jeito, meus amigos disseram alto: ‘Esquece de vez. Ela vai casar’.
Depois da notícia busquei meu altar e sequei duas garrafas de whisky. Não encontrei alívio algum. Escutei dez ou cem músicas de fossa. Nenhuma pareceu dizer o que eu queria dizer, o que eu queria escrever, o que meu coração precisava gritar.
Se eu começar a falar de sexo, aí é que a coisa fica feia. Ela transformou um menino em homem. Me dizia o que queria e como queria. Me ensinou o que a língua faz enquanto as mãos podem estar na nuca ou dando tapas de amor. Ela é dessas que não tem pudor. Faz do sexo o templo sagrado que deve ser. Seu limite é o gemido alto, o entorno é só um detalhe. De fantasias mil, eu já tive ao meu lado a mulher mais safada e independente que já se viu; e se verá.
Foi tanta coisa ao lado dela que minha cabeça me trai: começo a achar impossível alguém preencher todo o vão que ficou na partida. A gente já jogou bola na praia; eu – sem ciúme – já incentivei ela a diminuir a saia. A gente já tomou cerveja no gargalo; também fomos juntos conhecer o Brasil de carro. Ela nunca fez teatro, mas numa das nossas viagens encenou que morreu. Nunca vi aquela filha da puta rir tanto como quando eu gritei: ‘Pelo amor de deus, amor: acorda! Puta que o pariu, acorda!’
Falo por mim: ela é dessas que você dá corda à partir de um só sorriso. Joga o cabelo pro lado e te pede o isqueiro. Quando você menos percebe, daria o mundo inteiro para mais cinco minutos ouvindo cada palavra que sai daquela boca. Ainda não sei se aquela área de fumantes fez parte do melhor ou o pior dia da minha vida. Ainda não sei o que vale a pena nessa vida. Porque nos apresentar pessoas tão distintas e marcantes se logo depois vai nos tirar à força? Talvez eu ainda precise entender que felicidade é o beijo que se dá no presente, não planos de futurismos baratos.
Todos os dias eu ainda lembro que ela é do tipo que inspira só por respirar. Cujas palavras formavam frases que me queimavam o juízo. Dessas que têm no cabelo o cheiro que eu queria sentir ao deitar. A pele que eu queria sentir com a palma da alma quando acordasse. A voz, meu Deus, dessas que eu queria guardar e fazer música dentro de mim. Ela é assim: linda. E sobrava tanto que quando eu encostava nela, me sentia lindo também. E aqui falo de beleza que sai dos poros, não nas capas. Ela era justa. Podia gritar, podia chorar, podia implicar; mas eu morreria ao lado de uma justa. Só que não deu. Num desses dias esquisitos, sumimos. Ela foi pra lá. E eu vim parar aqui.
Tô com saudade dela.